sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Um divórcio desnecessário

Nas discussões políticas em Conceição do Coité na última década, a expressão “esse casamento deu certo” foi popularizada para simbolizar a aliança política de Assis, do PT e Alex da Piatã, então do PMDB (hoje Alex Lopes, filiado ao PSD).  Essa aliança/casamento foi fundamental para que esse grupo político vencesse as eleições em 2012, derrotando o grupo dos Vermelhos, que por quase 40 anos governou Coité. Esse casamento foi tão frutífero enquanto durou, que transformou os destinos políticos de Coité, trazendo novos ares à gestão pública municipal, conseguindo uma reeleição do grupo, e duas eleições para deputado estadual para o próprio Alex Lopes, além de diversas parcerias e benefícios que essa união trouxe ao município. Muitos avaliaram positivamente a gestão dos 08 anos de Governo da Gente, mesmo a oposição. Isso foi fruto dessa união também. 

Pois bem.Como é notório, na última terça feira, dia 18 de janeiro, em live transmitida nas redes sociais, o ex-prefeito Assis anunciou o divórcio, e listou as justificativas para tal, dentre elas a falta de liderança e empenho do então aliado Alex Lopes na manutenção de seus correligionários diretos, como ex-vereadores do seu partido político que romperam com o governo, bem como a sabotagem de pessoas ligadas ao deputado na campanha eleitoral de 2020, quando alguns deles não participaram ativamente, enquanto outros conspiraram contra o candidato Danilo Ramos, dentre outras justificativas. Mas talvez a crítica mais incisiva foi a de que as condições impostas para sustentar a aliança, depois de tanta “generosidade” e paridade era a de quase escravidão. Assim, o rompimento seria uma espécie de alforria: “considero-me culpado da acusação de não aceitar ser um escravo”, ratificou Assis no dia seguinte no Facebook. As palavras utilizadas foram duras, incisivas e sem tapeação. 

É importante ressaltar que Assis tem razão em muitos argumentos, e é necessário que Alex exerça uma liderança mais proativa com seus liderados, para manter o grupo ligado a ele mais coeso. Perder lideranças políticas quase que periodicamente demonstra que tá faltando algo nessa seara.    

Porém, como afirmei no título acima, julgo o divórcio desnecessário e inadequado. Primeiro pela forma. Essas questões deveriam ser tratadas de forma interna, e pensando em um bem maior, não são motivos para um rompimento total. Expor detalhes dos acontecimentos só contribui para criar feridas ainda mais dolorosas, acirrando rivalidades dentro do mesmo campo político. Segundo porque era possível, como eu ainda acho que é, um entendimento de ambas as partes, aparando as arestas, engolindo sapos, para tornar o grupo forte para disputar as próximas eleições municipais, já que nas eleições desse ano, Assis não apoiará Alex para tentativa de seu terceiro mandato na ALBA. Para que fique claro: esse ano, não haverá aliança entre Assis e Alex. Mas em 2024? Tudo é possível.  

Na política, ninguém vence sozinho. O exemplo de Lula, que há 20 anos fez uma aliança com José Alencar para ganhar as eleições, trazendo o PMDB para governar, e que hoje ventila para todos que não vê problema algum em se aliar com Alckmin, Calheiros, Sarney, Kassab é elucidativo em si mesmo: não há vitória eleitoral, e sobretudo de governabilidade sem alianças e pactos políticos. Na Bahia, Tanto Wagner quanto Rui são frutos também da aliança entre PT, PP e PSD. 

Quem tá rindo e regozijando desse espetáculo bigbrotherano todo são os vermelhos. O grupo que é sempre forte, tá com a prefeitura na mão e vai pavimentar com tranquilidade a possível reeleição do prefeito Marcelo.  

Finalizo esse artigo com um versículo bíblico tirado do contexto para reflexão: "Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não poderá subsistir" Marcos 3.24. Esse versículo serve tanto para o oposição em Coité atualmente, quanto para a situação (isso porque já existe nos bastidores do poder municipal algum disse me disse sobre pessoas e lideranças dos vermelhos que estão se desentendendo na administração municipal). Resta saber se haverá rompimento público, ou se as arrestas serão aparadas em nome do “bem comum”. 

Robenilton Pinto Carneiro, Professor e historiador